Gustavo Malhães
gustavo magalhães
artista visual


Exposição Coletiva
"A Palavra: Prosa", Galeria Nonada, RJ 2022
A palavra: prosa
O Diagnóstico
Pelo que se pode ver é crônica. Os doutores disseram que vamos ter que conviver com as crises até o fim. Precisamos, portanto, de paliativos para sanar os sintomas e nos manter fortes para que não voltemos a adoecer.
É crônica a doença dos que reportam suas notícias mais íntimas como arte. Os doutores, masmorras de academias, estudam e prescrevem, mas não se contagiam. E o paliativo é o mais simples prazer que se pode extrair da dureza da vida. Uma fuga, uma aventura, uma brisa. É crônica, porque é relato e atualiza-se em cada esquina. É crônica porque não rima e, quando rima, não importa. Ao menos não importa mais do que importa a tragédia da rotina. É quase um jornal, um diário. Disso se morre e por isso se vive.
Viver como a novela das nove zomba do noticiário que a antecede. Viver como quem decide dizer que não se importa com o preço das horas. A doença avança a cada vez que respondemos com “tudo bem” ao despreocupado “como vai?” dos demagogos. Mas não é só revolta que estampa a face febril de quem se contamina. Também celebramos em convulsão a realidade, como quem não se fia em depressões e nostalgias. E, talvez, sejamos os que mais festejam as cisões da cidade no terror mais concreto de todo santo dia. É o paliativo, um antitérmico, a alegria. Apaga-se com ela uma barricada em chamas num futuro de rebeldias, mas rebela-se com ela no presente de extremo frio das agonias. Uma fuga, uma aventura, uma brisa. A grande alegoria.
André Vargas
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